segunda-feira, 20 de abril de 2009

Os quinze

Nenúfares, de Claude Monet (1904)


Os quinze.
A serenidade cirandava pela sala. Olhares perdiam-se num desconhecido, num mar de folhas ainda por preencher, no odor ainda virgem do papel. Deram-se a conhecer, de sorrisos retraídos e vozes vacilantes. Silenciosos, entregaram-se à labuta que, segundo os mestres, se previa árdua e contínua.
Os quinze.
Havia um corajoso, homem dos sete ofícios, que atirava ideias corpo fora, sempre de sorriso em riste, mas deixando sempre um certo mistério nas suas palavras; um amante do teatro sugeria futuras performances num palco imaginário, para incredulidade de alguns presentes no grupo; uma jovem silenciosa, de cabelos negros ondeantes, segredava o seu pavor de falar em público; havia ainda uma apaixonada pelo país dos diversos queijos e vinhos; havia outra que prometia seriamente a vinda breve de um livro; um que revelava a sua paixão por cinema e pelo invulgar; outro que amava as telas e que gravava na película momentos que só ele escolhia; uma jovem de cabelos cor de sol cuja voz se perdia no caminho, pequenina e doce mas forte em ideias e conteúdo; havia ainda a adoradora de músicas de sabor oriental a exalar sempre uma doce tranquilidade; um poeta que assegurava que a sua voz vibrava nas cadeiras; um artista que olvidava a cor clara das calças e que se misturava com os elementos naturais para se dedicar à tarefa da escrita criativa, de cigarro no canto da boca; uma jovem discreta de olhar meigo e gentileza na voz de uma país distante mas ao mesmo tempo tão perto; outra de olhar atento, voz efusiva e dona de histórias infindáveis; havia ainda aquela que escondia passado de força e se envolvia numa suave discrição; e um amante das novas tecnologias, cujo olhar se afundava, por vezes, por detrás de um ecrã.