Vai para aí um grande entusiasmo sobre o novo programa lançado pela SIC durante o período eleitoral. Refiro-me ao “Gato Fedorento – Esmiúça os Sufrágios”. Um reality de humor à imagem dos famosos gatos que nesses tempos de debate escasso e cinzentismo de propostas constituiu aquilo que generalizadamente se apelidou de “lufada de ar fresco”. E foi sem dúvida. Face a mensagens unilaterais que caracterizam as campanhas, a debates padronizados e sobretudo muito pobres em termos de vivacidade e abertura de ideias, as entrevistas que Ricardo Araújo Pereira realizou, romperam de facto com aquele deserto de ideias e pensamento crítico.
Lamento no entanto dizê-lo: O programa “Gato Fedorento – Esmiúça os Sufrágios” prometeu muito mas concretizou pouco, a meu ver. Desde logo um desequilíbrio interno permanente, aliás já presente nos mais recentes Gato Fedorento. A saber, não se compara a genialidade criativa e o potencial humorístico evidenciado pelo Ricardo Araújo Pereira com a medianez dos seus colegas (engraçados aqui e ali!). Nalguns programas as aparições são de tal modo forçadas e sensaboronas que a comparação com outras peças do mesmo programa, ainda torna mais penosa a sua visualização. O humor tem que ser ruptura, radicalidade, mas também bom gosto, “golpe de asa”, inteligência, expressividade. Não pode ser um mero reportório de “sketchs” sem piada de mero suporte à estrela. Mas esta fragilidade não é nova. É a história dos Gatos que tem na sua estrela maior o Ricardo Araújo Pereira cujo talento absolutamente extraordinário o diferencia de todos os outros.
Voltando ao recente programa, o que verdadeiramente causou uma comoção nacional foram as entrevistas que diariamente o programa apresentou com protagonistas da vida política nomeadamente ligados à maratona eleitoral que ocorreu durante os últimos meses. E aí é que eu me permito discordar dos comentários mais ou menos generalizados.
A ideia era: vamos entrevistar políticos da praça, vamos colocar algumas questões com piada ou questões delicadas que um entrevistador “normal” não faria. E este é para mim o pecado original de opção editorial do programa: assume-se logo que a entrevista não é séria (“é para ter piada”) é para rir, é para divertir os telespectadores. Os entrevistados que num primeiro momento poderão ter sentido o desconforto ou o risco de lá irem, rapidamente se aperceberam que aquele era um palco óptimo para mostrarem o seu lado humano, o seu sentido de humor (mesmo que manifestamente não o tenham), para dizerem umas graçolas alinhando numa entrevista que se tornou inócua e nalguns casos sem piada nenhuma. Até a lógica dos convites muito politicamente correcta (todas as figuras do poder, da oposição quer nacional quer regional, independentemente da sua actualidade e do que se previa terem para dizer) reforçou aquilo em que o programa se transformou: um desfile de vaidades de políticos mais ou menos activos ou no activo que na maioria dos casos apenas se limitavam a reagir com mais ou menos graça às interpelações do entrevistador, sempre num registo muito soft e muito “alinhadinho”: “vejam meus amigos como eu sou corajoso vindo cá, como sou engraçado e como tenho sentido de humor”, jamais conferindo ou aceitando o lado sério que muitas das questões efectivamente tinham.
Estou convencido que a partir dos primeiros dois ou três programas, logo que se percebeu que para além de inofensivo, era um palco para dar algum brilho a imagens cinzentas ou mesmo desgastadas, que os políticos da nossa praça e alguns das chamadas personalidades mediáticas, terão mesmo começado a insinuar-se senão mesmo a “meter cunhas” à produção do programa para que fossem convidados para lá ir. Há, aliás, algumas presenças que mais pareceram “fretes à imagem” de determinadas personagens da nossa praça, do que propriamente escolhas alicerçadas em critérios de relevância política, intelectual ou outra.
Salvo as devidas distâncias, um programa como o “Daily Show” (uma das referências do género) alia momentos hilariantes e verdadeiramente radicais com entrevistas sérias, com debate profícuo e com conteúdo sempre fundamentado na actualidade: uma iniciativa política recente, um livro lançado, uma ideia forte amplificada pela comunicação social, etc. Ou seja, exactamente o contrário do que na maior parte dos casos se fez ali: uma “passerelle” muito convencional de “politicozinhos” e personalidadezinhas na ordem do dia, naturalmente muito contentinhas com a visibilidade sem risco que lhes foi concedida.
E por favor não me digam que não é possível à nossa escala dar meios de produção similares a uma equipa como os Gatos. E também estou convencido que o Ricardo Araújo Pereira tem mérito intelectual, capacidade jornalística, sentido crítico e cultura política mais do que suficientes para ser um “pivot” a sério de um programa de humor daquele género com entrevistas acutilantes sobre a actividade política e cultural e sobre o pensamento dos nossos dias.
Agora que terminou, proceda-se pois a um balanço sério: o programa teve mérito indiscutível, rompeu com algum cinzentismo mediático que caracteriza o nosso panorama televisivo na abordagem de questões políticas, teve aqui e ali momentos geniais mas tem um potencial imenso ao nível desse momento âncora que são as entrevistas com personalidades. Potencial que exige uma abordagem criativa, de ruptura com padrões clássicos de abordagem televisiva e de ousadia mediática.
Tenho para mim que o salto qualitativo que o programa deve dar em futuras edições, terá de passar cada vez mais pela utilização ainda mais expressiva e ambiciosa do profissional Ricardo Araújo Pereira, pois como se diz agora, ele estará sempre no lado da solução.
Lamento no entanto dizê-lo: O programa “Gato Fedorento – Esmiúça os Sufrágios” prometeu muito mas concretizou pouco, a meu ver. Desde logo um desequilíbrio interno permanente, aliás já presente nos mais recentes Gato Fedorento. A saber, não se compara a genialidade criativa e o potencial humorístico evidenciado pelo Ricardo Araújo Pereira com a medianez dos seus colegas (engraçados aqui e ali!). Nalguns programas as aparições são de tal modo forçadas e sensaboronas que a comparação com outras peças do mesmo programa, ainda torna mais penosa a sua visualização. O humor tem que ser ruptura, radicalidade, mas também bom gosto, “golpe de asa”, inteligência, expressividade. Não pode ser um mero reportório de “sketchs” sem piada de mero suporte à estrela. Mas esta fragilidade não é nova. É a história dos Gatos que tem na sua estrela maior o Ricardo Araújo Pereira cujo talento absolutamente extraordinário o diferencia de todos os outros.
Voltando ao recente programa, o que verdadeiramente causou uma comoção nacional foram as entrevistas que diariamente o programa apresentou com protagonistas da vida política nomeadamente ligados à maratona eleitoral que ocorreu durante os últimos meses. E aí é que eu me permito discordar dos comentários mais ou menos generalizados.
A ideia era: vamos entrevistar políticos da praça, vamos colocar algumas questões com piada ou questões delicadas que um entrevistador “normal” não faria. E este é para mim o pecado original de opção editorial do programa: assume-se logo que a entrevista não é séria (“é para ter piada”) é para rir, é para divertir os telespectadores. Os entrevistados que num primeiro momento poderão ter sentido o desconforto ou o risco de lá irem, rapidamente se aperceberam que aquele era um palco óptimo para mostrarem o seu lado humano, o seu sentido de humor (mesmo que manifestamente não o tenham), para dizerem umas graçolas alinhando numa entrevista que se tornou inócua e nalguns casos sem piada nenhuma. Até a lógica dos convites muito politicamente correcta (todas as figuras do poder, da oposição quer nacional quer regional, independentemente da sua actualidade e do que se previa terem para dizer) reforçou aquilo em que o programa se transformou: um desfile de vaidades de políticos mais ou menos activos ou no activo que na maioria dos casos apenas se limitavam a reagir com mais ou menos graça às interpelações do entrevistador, sempre num registo muito soft e muito “alinhadinho”: “vejam meus amigos como eu sou corajoso vindo cá, como sou engraçado e como tenho sentido de humor”, jamais conferindo ou aceitando o lado sério que muitas das questões efectivamente tinham.
Estou convencido que a partir dos primeiros dois ou três programas, logo que se percebeu que para além de inofensivo, era um palco para dar algum brilho a imagens cinzentas ou mesmo desgastadas, que os políticos da nossa praça e alguns das chamadas personalidades mediáticas, terão mesmo começado a insinuar-se senão mesmo a “meter cunhas” à produção do programa para que fossem convidados para lá ir. Há, aliás, algumas presenças que mais pareceram “fretes à imagem” de determinadas personagens da nossa praça, do que propriamente escolhas alicerçadas em critérios de relevância política, intelectual ou outra.
Salvo as devidas distâncias, um programa como o “Daily Show” (uma das referências do género) alia momentos hilariantes e verdadeiramente radicais com entrevistas sérias, com debate profícuo e com conteúdo sempre fundamentado na actualidade: uma iniciativa política recente, um livro lançado, uma ideia forte amplificada pela comunicação social, etc. Ou seja, exactamente o contrário do que na maior parte dos casos se fez ali: uma “passerelle” muito convencional de “politicozinhos” e personalidadezinhas na ordem do dia, naturalmente muito contentinhas com a visibilidade sem risco que lhes foi concedida.
E por favor não me digam que não é possível à nossa escala dar meios de produção similares a uma equipa como os Gatos. E também estou convencido que o Ricardo Araújo Pereira tem mérito intelectual, capacidade jornalística, sentido crítico e cultura política mais do que suficientes para ser um “pivot” a sério de um programa de humor daquele género com entrevistas acutilantes sobre a actividade política e cultural e sobre o pensamento dos nossos dias.
Agora que terminou, proceda-se pois a um balanço sério: o programa teve mérito indiscutível, rompeu com algum cinzentismo mediático que caracteriza o nosso panorama televisivo na abordagem de questões políticas, teve aqui e ali momentos geniais mas tem um potencial imenso ao nível desse momento âncora que são as entrevistas com personalidades. Potencial que exige uma abordagem criativa, de ruptura com padrões clássicos de abordagem televisiva e de ousadia mediática.
Tenho para mim que o salto qualitativo que o programa deve dar em futuras edições, terá de passar cada vez mais pela utilização ainda mais expressiva e ambiciosa do profissional Ricardo Araújo Pereira, pois como se diz agora, ele estará sempre no lado da solução.
António Pêgo