quarta-feira, 15 de julho de 2009

Uma conversa nunca se esquece









“(…)Não me venhas com disparates se tens ou não vocação de jornalista. É melhor que te perguntes se és curioso, impertinente, se te interessa o que te rodeia, se queres averiguar o porquê das coisas (…) uma das principais condições é a curiosidade (…) implica uma certa ingenuidade de espírito, um amor ao novo, um estar disposto a deixar-se surpreender cada manhã (…) O bom dos jornalistas, dos jornalistas assim sem mais nada, é que se interessam por tudo, se entusiasmam por tudo e para tudo (…) O que nos interessa é contar histórias. (…)”
In “Cartas a um jovem jornalista”, de Juan Luis Cébrian



14.45.
A tarde azulada e soalheira aquecia o nervosismo da espera.
Um esbracejar frenético do segurança revelou-nos a presença do convidado. Ao longe, por detrás das vidraças, uma silhueta elegante, de fato escuro esvoaçante a contrastar com a cor nívea da camisa, avançava a passos largos em direcção ao edifício frio, de linhas geométricas. Um calor humano invulgar invadiu os aposentos habitualmente objectivos e cinzentos.
O convidado tinha vindo de Lisboa. O atraso. Não almoçara. Um bolo e um café engolidos num ápice ajudaram à inspiração para a conversa. Teria, decerto, espantado o pessoal do bar se tivesse pedido o saudoso ovo estrelado com açúcar de que tanto falam aqueles cujas vivências em África pululam constantemente na memória.

Desde a infância, à minha volta, vozes saudosas de ovos estrelados com açúcar; de pão a transbordar de açúcar; da muamba de galinha acompanhada com o delicioso funge, vulgo “cola de sapato”; dos machimbombos de Luanda; das praias de águas tépidas, recheadas de alforrecas, que provocavam choques pelo corpo aquando de mergulhos vigorosos pelos jovens de então; do edifício em Luanda onde no topo brilhava a publicidade à tão famosa cerveja angolana “Cuca”; da capela do Grafanil, gravada num tronco de um embondeiro; do calor húmido tropical que incitava a banhos constantes; dos armazéns Chiadinho, pertencentes a homens da família…

Um brilho refulgente no olhar da audiência pousava na figura mediática que ia narrando vivências e histórias que lhe foram marcando o trilho da vida. A voz grave, entusiasmada, salpicada por alguns ingredientes humorísticos, saltitava por entre os ouvintes extasiados com a frontalidade e simplicidade do convidado.
Ávidos de respostas às suas questões, os presentes bombardearam sofregamente o jornalista, sempre de sorriso aberto e olhar de um verde sereno, irresoluto. Olhares grávidos de ideias, de incentivo; corações a transbordar de força para caminhar, agora, de cabeça erguida, tentando sempre agitar um pouco mais a vida, alcançando o equilíbrio estipulado por cada um.

Instigou-se à actividade e não ao conformismo passivo do sofá, absorvendo toda a informação sem qualquer postura crítica. Pairava no ar a ideia de que para se conseguirem alcançar os objectivos era necessária uma caldeirada de ingredientes que nem todos continham dentro de si mas que tinham de urgentemente buscar.

“Carpe Diem”! Um rasto deste perfume foi lançado no ar. A mensagem do viver a vida intensamente, sofregamente, como se de um último dia se tratasse, procurando sempre alcançar o equilíbrio convivendo, amando, trabalhando, lendo, praticando desporto, escrevendo… vivendo com garra!


Teresa Garcia


http://www.youtube.com/watch?v=S8JdYfaUBZo

Sem comentários:

Enviar um comentário