sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Aos quinze,

Olhares expectantes
Silêncios calados
Convergência de metas
Partilha de histórias
Eloquência de momentos
Imobilizados
Na inexorabilidade
Do tempo.
Vivências de instantes
Raivas contidas
Expelidas
Numa explosão de
Sentidos
E um burilar
Constante
De cada
Essência.

Teresa Garcia

sábado, 31 de outubro de 2009

Gatos de trazer por casa

Vai para aí um grande entusiasmo sobre o novo programa lançado pela SIC durante o período eleitoral. Refiro-me ao “Gato Fedorento – Esmiúça os Sufrágios”. Um reality de humor à imagem dos famosos gatos que nesses tempos de debate escasso e cinzentismo de propostas constituiu aquilo que generalizadamente se apelidou de “lufada de ar fresco”. E foi sem dúvida. Face a mensagens unilaterais que caracterizam as campanhas, a debates padronizados e sobretudo muito pobres em termos de vivacidade e abertura de ideias, as entrevistas que Ricardo Araújo Pereira realizou, romperam de facto com aquele deserto de ideias e pensamento crítico.
Lamento no entanto dizê-lo: O programa “Gato Fedorento – Esmiúça os Sufrágios” prometeu muito mas concretizou pouco, a meu ver. Desde logo um desequilíbrio interno permanente, aliás já presente nos mais recentes Gato Fedorento. A saber, não se compara a genialidade criativa e o potencial humorístico evidenciado pelo Ricardo Araújo Pereira com a medianez dos seus colegas (engraçados aqui e ali!). Nalguns programas as aparições são de tal modo forçadas e sensaboronas que a comparação com outras peças do mesmo programa, ainda torna mais penosa a sua visualização. O humor tem que ser ruptura, radicalidade, mas também bom gosto, “golpe de asa”, inteligência, expressividade. Não pode ser um mero reportório de “sketchs” sem piada de mero suporte à estrela. Mas esta fragilidade não é nova. É a história dos Gatos que tem na sua estrela maior o Ricardo Araújo Pereira cujo talento absolutamente extraordinário o diferencia de todos os outros.
Voltando ao recente programa, o que verdadeiramente causou uma comoção nacional foram as entrevistas que diariamente o programa apresentou com protagonistas da vida política nomeadamente ligados à maratona eleitoral que ocorreu durante os últimos meses. E aí é que eu me permito discordar dos comentários mais ou menos generalizados.
A ideia era: vamos entrevistar políticos da praça, vamos colocar algumas questões com piada ou questões delicadas que um entrevistador “normal” não faria. E este é para mim o pecado original de opção editorial do programa: assume-se logo que a entrevista não é séria (“é para ter piada”) é para rir, é para divertir os telespectadores. Os entrevistados que num primeiro momento poderão ter sentido o desconforto ou o risco de lá irem, rapidamente se aperceberam que aquele era um palco óptimo para mostrarem o seu lado humano, o seu sentido de humor (mesmo que manifestamente não o tenham), para dizerem umas graçolas alinhando numa entrevista que se tornou inócua e nalguns casos sem piada nenhuma. Até a lógica dos convites muito politicamente correcta (todas as figuras do poder, da oposição quer nacional quer regional, independentemente da sua actualidade e do que se previa terem para dizer) reforçou aquilo em que o programa se transformou: um desfile de vaidades de políticos mais ou menos activos ou no activo que na maioria dos casos apenas se limitavam a reagir com mais ou menos graça às interpelações do entrevistador, sempre num registo muito soft e muito “alinhadinho”: “vejam meus amigos como eu sou corajoso vindo cá, como sou engraçado e como tenho sentido de humor”, jamais conferindo ou aceitando o lado sério que muitas das questões efectivamente tinham.
Estou convencido que a partir dos primeiros dois ou três programas, logo que se percebeu que para além de inofensivo, era um palco para dar algum brilho a imagens cinzentas ou mesmo desgastadas, que os políticos da nossa praça e alguns das chamadas personalidades mediáticas, terão mesmo começado a insinuar-se senão mesmo a “meter cunhas” à produção do programa para que fossem convidados para lá ir. Há, aliás, algumas presenças que mais pareceram “fretes à imagem” de determinadas personagens da nossa praça, do que propriamente escolhas alicerçadas em critérios de relevância política, intelectual ou outra.
Salvo as devidas distâncias, um programa como o “Daily Show” (uma das referências do género) alia momentos hilariantes e verdadeiramente radicais com entrevistas sérias, com debate profícuo e com conteúdo sempre fundamentado na actualidade: uma iniciativa política recente, um livro lançado, uma ideia forte amplificada pela comunicação social, etc. Ou seja, exactamente o contrário do que na maior parte dos casos se fez ali: uma “passerelle” muito convencional de “politicozinhos” e personalidadezinhas na ordem do dia, naturalmente muito contentinhas com a visibilidade sem risco que lhes foi concedida.
E por favor não me digam que não é possível à nossa escala dar meios de produção similares a uma equipa como os Gatos. E também estou convencido que o Ricardo Araújo Pereira tem mérito intelectual, capacidade jornalística, sentido crítico e cultura política mais do que suficientes para ser um “pivot” a sério de um programa de humor daquele género com entrevistas acutilantes sobre a actividade política e cultural e sobre o pensamento dos nossos dias.
Agora que terminou, proceda-se pois a um balanço sério: o programa teve mérito indiscutível, rompeu com algum cinzentismo mediático que caracteriza o nosso panorama televisivo na abordagem de questões políticas, teve aqui e ali momentos geniais mas tem um potencial imenso ao nível desse momento âncora que são as entrevistas com personalidades. Potencial que exige uma abordagem criativa, de ruptura com padrões clássicos de abordagem televisiva e de ousadia mediática.
Tenho para mim que o salto qualitativo que o programa deve dar em futuras edições, terá de passar cada vez mais pela utilização ainda mais expressiva e ambiciosa do profissional Ricardo Araújo Pereira, pois como se diz agora, ele estará sempre no lado da solução.
António Pêgo

domingo, 25 de outubro de 2009

"Teatro é uma paixão"















Emanando uma doce simplicidade, Maria João Luís trespassava, suavemente, as portas do nosso antro do saber. Um olhar gigantesco de cor de copa louca das palmeiras fitou-me, curioso e expectante. Saudamo-nos cordialmente e eu abstraía-me de todas as personagens que vira ao longo dos anos da minha adolescência a saltitar no ecrã televisivo. Aquela mulher, de cabelos curtos cor de mel, olhar de imenso mar de verde e voz salpicada de doçura e vivacidade metamorfoseava-se em realidade.
Pisou o palco mas desta vez para conversar um pouco sobre o seu espírito inquieto e a sua mais recente iniciativa: o Teatro da Terra. O seu rosto transpirava amor ao Teatro. “O palco é um segredo”. Para esta actriz, o teatro era a sua casa, aí poderia dormir “com uma perna a tapar-me durante a noite”. Disse-o com o verde mar do olhar a ser assolado por uma tormenta de recordações emotivas. “O palco é a minha casa…”.Os gestos vigorosos completavam a sua mensagem de incentivo e a voz, a voz lançou-a sem receios sobre todas as cabeças e os ouvidos prescrutantes. Uma voz de contralto, assertiva mas sempre doce, límpida com ausência de rugosidades.
Teatro da Terra.
A mãe, Maria João Luís.
Referiu o facto de ser importante ter ideias mas realçou o facto de ser ainda mais relevante concretizá-las, apesar de todas as barreiras, de toda esta tentativa de esvanecimento cultural que paira sobre o nosso país. Principalmente, apelou à pro-actividade das pessoas, a não se renderem somente a bengalas económicas que tardam a vir. Sublinhou o facto de ser importante frequentar um curso de teatro, mesmo que não se seguissem as pisadas das artes performativas. Esse curso iria servir para desenvolver competências de relacionamento interpessoal, para criar estratégias de relacionamento num grupo de trabalho. As palavras dançavam no ar, estonteando os ouvintes de agrado. Depois, a resposta efusiva de alguns elementos do público, amantes da arte e do espectáculo.
21.30. Noite sem lua.
Teatro do Bolhão, impregnado de um odor húmido da terra misturado com o perfume das vielas que desembocavam na praceta. Por meio de labirintos de pedra e escadas tortuosas, acedíamos ao anfiteatro, onde se iria desenrolar o espectáculo. As essências misteriosas do palco rodeavam a assistência, expectante. Um momento que se deveria, se possível, prolongar no tempo.
Breu. De repente, uma mulher jovem, envergando vestes negras. Um balde e um pano molhado que ia vergastando, violentamente, o soalho e salpicando o público ávido de interacção. Depois o enredo, a música a ilustrá-lo e a simbologia das cores. Uma interpretação muito natural, prenha de espontaneidade, feita somente por mulheres enclausuradas nos preconceitos, liberdades gritadas, abafadas pelo mofo opressivo dos tempos.

Teresa Garcia

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Histórias de Vida

Razões profissionais obrigam-me a participar em inúmeros seminários, conferências apresentando oradores mais ou menos conhecidos, individualidades relevantes e sobretudo profissionais das Empresas que apresentam testemunhos, experiências e as suas práticas mais exemplares. São sempre momentos importantes não tanto pelo seu lado mais simbólico e expositivo, mas sobretudo pelo espaço de partilha que propiciam – partilha de experiências, o encontro de visões plurais e de caminhos diversos.
Em boa hora, a AEP no âmbito das suas responsabilidades de promotor de Cursos de Educação e Formação de Adultos convidou o jornalista Júlio Magalhães. Num auditório pleno de atenção, meia dúzia de turmas EFA, ouviram com “atenção interessada” o Homem, o jornalista, o cidadão, o escritor que lhes transmitiu memórias de vida, recordações e vivências marcantes, experiências profissionais decisivas, ilusões e desilusões de uma personalidade cativante, comunicativa, e com uma enorme sensibilidade.
Com uma simplicidade notável Júlio Magalhães alertou consciências, levantou interrogações, percorreu momentos fundadores da sua vida, despertando emoções e recordações numa plateia fascinadamente atenta.
Por razões de natureza pessoal não posso deixar de referir um lugar para o qual Júlio Magalhães habilmente nos transportou.
Refiro-me ao apelo de África – de uma África que já foi e já não é, de uma Angola natal lhe imprimiu algumas das suas memórias mais intensas. Revisitei a minha condição já longínqua de retornado, relembrando com ele pedaços de histórias que se viveram então e que são hoje memória. Fomos transportados com Júlio Magalhães a essa África intensa que nos preenche, que só sente quem já lá esteve e pressente quem lá não esteve.
As memórias que Júlio Magalhães connosco partilhou (de resto como no livro “Os Retornados”) são memórias que transportam a alegria dos bons tempos, de juventude bem vivida, mas também da capacidade de integração na metrópole que “nem a Coca-Cola conhecia”, e de uma experiência de vida feita de acasos felizes associados numa grande persistência e enorme criatividade. Júlio Magalhães tem a arte de nos apresentar uma vida simples mas repleta de histórias divertidas com um enorme sentido comunicativo e sensibilidade.

Por isso estou certo que cada adulto presente naquele auditório, se reviu aqui e ali na notável história de vida de Júlio Magalhães, e com ele reflectiu uns em silêncio e outros através dos testemunhos vertidos neste blogue.


De Djelimady Tounkara - um músico fundador do Blues da África Ocidental, uma música extraordinária: Fanta Bourama.


http://www.youtube.com/watch?v=4E2aaQHcXHw&feature=related

António Pêgo


quinta-feira, 16 de julho de 2009

Os retornados

Tantos anos já passados
Desde que os retornados
Aqui vieram parar.
Mil vidas despedaçadas
Ainda hoje choradas.
Lembranças a recordarem
É assim anualmente.
Quando toda a gente
Procura juntar-se
É o matar de saudades
É o falar de verdades
Que ninguém pode abafar.
É juntar amigos
Recordar perigos
Dos tempos de além-mar
Aqui reina a alegria
Até ao final do dia
Na hora de regressar
Mais um ano afastado
É com os olhos molhados
Que prometemos voltar



HELENA ALMEIDA (EFA G.S.A)



http://www.youtube.com/watch?v=N0II75gCW-c

Reflexões sobre conversa com Júlio Magalhães...




É bom por vezes ter momentos de evasão da realidade dura que nos é mostrada, por exemplo através da televisão. Com a palestra gentilmente feita pelo Júlio Magalhães tive uma visão ainda mais realista, ainda que seja uma visão segundo os seus olhos. É uma realidade muito severa.


Os meios de comunicação não são mais do que “máquinas” a trabalhar no interesse dos grandes grupos económicos, que têm um único objectivo: OS NÚMEROS, O LUCRO, O DINHEIRO. Nem que tudo isto passe pelo choque de certas imagens, notícias em horário estratégico ou simplesmente pela manipulação em relação às crianças, que vai desde os brinquedos aos hábitos alimentares. O próprio jornalista descreveu isso com a simplicidade de quem lá trabalha, sem conseguir “despir a camisola” da empresa que representa. Conseguiu transmitir o verdadeiro stress em que vivem os profissionais da “caixinha mágica” para manipular as marionetas que somos todos nós nas mãos deles. Com muita naturalidade assumiu que noutros países se tivessem de descer as audiências, eles em tempo real alteram a grelha sem aviso prévio e o “burro come a palha que lhe dão”. É triste sermos tidos nesta conta. Se não dermos lucro, não temos opinião. Se não gostarmos de programas “de massa”, que chamam audiências, não temos direito a ver em horário nobre. Mas com tantos anos de trabalho na área é natural que fale desta forma. É a realidade do seu ambiente de trabalho e para o que é pago, provavelmente muito bem pago.


Também achei interessante o facto de Júlio Magalhães ter necessidade de ter actividades extra, sem terem nada em comum com a sua profissão, como jogar basquetebol ou escrever. Penso que é muito útil termos algo que gostemos de fazer para enveredarmos por aí quando abandonarmos a nossa profissão, para não nos sentirmos inválidos ou desorientados por nos faltar a rotina a que estamos presos. Outro ponto que achei muito interessante das suas palavras foi o facto de ele ter reconhecido que na vida foi um privilegiado. Soube aproveitar as oportunidades que a vida lhe deu. É um lema meu também, aproveitar as oportunidades na vida. Dizem que nada é por acaso, não sei se é ou não, mas por via das dúvidas aproveito sempre. Assim não me posso arrepender de lutar para conseguir uma vida melhor. Ele conseguiu, sem sequer ter concluído nenhuma licenciatura, não quer dizer que hoje em dia a realidade seja assim. No entanto, esta Nova Oportunidade vai ser a chave para um futuro melhor, disso tenho a certeza. Não sei se conseguirei ter o sucesso de Júlio Magalhães, mas hei-de ter sucesso na minha área com certeza. Isso posso dizer, pois depende de mim, e o que depende mim eu sou suficientemente exigente comigo própria para querer apenas o melhor!



Liliana Fonseca (EFA G.S.A)

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Júlio Magalhães - A frontalidade indirecta




Admirável nome do mundo jornalístico e comunicativo denota que já se corrompeu nas teias do negócio televisivo.
A sua frontalidade e humildade contrastavam com a sua sede de audiências. O seu espírito crítico e realista contrastava com a busca pelo sensacionalismo.
Homem de poucas habilitações académicas, experimentou de tudo um pouco e nunca disse que não ao que a vida lhe apresentava.
Jornalista, director de informação, pivô televisivo, hoje apresenta-se também como escritor. Disse não ter tido dificuldades em se desligar de uma escrita mais objectiva típica do jornalismo e passar para uma escrita mais romanceada, o que requer um uso mais criativo e imaginativo da mente, mas em todo o caso, a pesquisa, algo necessário à criação deste livro, não é ela também uma base do jornalismo? Não estarão a escrita jornalística e a escrita deste romance interligadas?
Júlio Magalhães profetizou declarações polémicas principalmente sobre qual o papel dos média perante a sociedade, o seu dever formativo e educativo e o seu poder social. Apesar do jornalista concordar com o poder e dever educativo e social dos média, este não consegue desligar do combate e busca diários pelas audiências seja a que preço for. A qualidade já não é um requisito nos meios de comunicação, estando cada vez mais o sensacionalismo, o ridículo e o brejeiro a ganhar terreno. Tudo em nome de mais share e nunca em nome da verdadeira informação.
Tentam-se encontrar desculpas e mais desculpas para a má qualidade informativa e educativa, pelo menos foi essa a sensação com que fiquei quando tive oportunidade de lhe colocar algumas questões que me pareciam pertinentes.
Tentei ser simpática sem o ser demasiado, interpelar as respostas. O objectivo era que as suas respostas saíssem do momento, do sentimento e não parecessem pré-feitas. Os nervos eram imensos mas a todo o custo tentei parecer relaxada e confiante. Os seus olhos e presença imponentes faziam-me recear a sua resposta e ao mesmo tempo davam-me uma curiosidade incompreensível. Em contraste a sua humildade e simpatia faziam-me sentir um estranho à vontade e instigavam-me a coragem para colocar em palavras o que pensava.
Uma tarde memorável, com várias surpresas e revelações, sem dúvida, intrigantes assim como intrigante o é Júlio Magalhães.
Lúcia Baptista (EFA G.S.A)

Uma conversa nunca se esquece









“(…)Não me venhas com disparates se tens ou não vocação de jornalista. É melhor que te perguntes se és curioso, impertinente, se te interessa o que te rodeia, se queres averiguar o porquê das coisas (…) uma das principais condições é a curiosidade (…) implica uma certa ingenuidade de espírito, um amor ao novo, um estar disposto a deixar-se surpreender cada manhã (…) O bom dos jornalistas, dos jornalistas assim sem mais nada, é que se interessam por tudo, se entusiasmam por tudo e para tudo (…) O que nos interessa é contar histórias. (…)”
In “Cartas a um jovem jornalista”, de Juan Luis Cébrian



14.45.
A tarde azulada e soalheira aquecia o nervosismo da espera.
Um esbracejar frenético do segurança revelou-nos a presença do convidado. Ao longe, por detrás das vidraças, uma silhueta elegante, de fato escuro esvoaçante a contrastar com a cor nívea da camisa, avançava a passos largos em direcção ao edifício frio, de linhas geométricas. Um calor humano invulgar invadiu os aposentos habitualmente objectivos e cinzentos.
O convidado tinha vindo de Lisboa. O atraso. Não almoçara. Um bolo e um café engolidos num ápice ajudaram à inspiração para a conversa. Teria, decerto, espantado o pessoal do bar se tivesse pedido o saudoso ovo estrelado com açúcar de que tanto falam aqueles cujas vivências em África pululam constantemente na memória.

Desde a infância, à minha volta, vozes saudosas de ovos estrelados com açúcar; de pão a transbordar de açúcar; da muamba de galinha acompanhada com o delicioso funge, vulgo “cola de sapato”; dos machimbombos de Luanda; das praias de águas tépidas, recheadas de alforrecas, que provocavam choques pelo corpo aquando de mergulhos vigorosos pelos jovens de então; do edifício em Luanda onde no topo brilhava a publicidade à tão famosa cerveja angolana “Cuca”; da capela do Grafanil, gravada num tronco de um embondeiro; do calor húmido tropical que incitava a banhos constantes; dos armazéns Chiadinho, pertencentes a homens da família…

Um brilho refulgente no olhar da audiência pousava na figura mediática que ia narrando vivências e histórias que lhe foram marcando o trilho da vida. A voz grave, entusiasmada, salpicada por alguns ingredientes humorísticos, saltitava por entre os ouvintes extasiados com a frontalidade e simplicidade do convidado.
Ávidos de respostas às suas questões, os presentes bombardearam sofregamente o jornalista, sempre de sorriso aberto e olhar de um verde sereno, irresoluto. Olhares grávidos de ideias, de incentivo; corações a transbordar de força para caminhar, agora, de cabeça erguida, tentando sempre agitar um pouco mais a vida, alcançando o equilíbrio estipulado por cada um.

Instigou-se à actividade e não ao conformismo passivo do sofá, absorvendo toda a informação sem qualquer postura crítica. Pairava no ar a ideia de que para se conseguirem alcançar os objectivos era necessária uma caldeirada de ingredientes que nem todos continham dentro de si mas que tinham de urgentemente buscar.

“Carpe Diem”! Um rasto deste perfume foi lançado no ar. A mensagem do viver a vida intensamente, sofregamente, como se de um último dia se tratasse, procurando sempre alcançar o equilíbrio convivendo, amando, trabalhando, lendo, praticando desporto, escrevendo… vivendo com garra!


Teresa Garcia


http://www.youtube.com/watch?v=S8JdYfaUBZo

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Distância pode causar saudades, mas nunca o esquecimento

















Sinto saudades de África de outrora
Da sua misteriosa mas exótica beleza,
Das danças e do som dos tambores
Cujo ritmo desafiava a própria natureza.



Sinto saudades do murmúrio das palmeiras
Naquelas maravilhosas noites de luar,
Daquele mar de águas quentes e calmas
Onde a tentação nos levava a mergulhar.



Sinto saudades do convívio da sua gente
Das frondosas matas
Da magia do pôr-do-sol sobre o mar azul
Cujas cores eram impossível de duplicar.



Sinto saudades das planícies intermináveis,
Das aldeias perdidas nas montanhas do interior.
Longe de ti a minha vida jamais será a mesma
Mas serei sempre a tua grande admiradora.



H.A. (EFA G.S.A)

Histórica Ilha de Moçambique



Terra onde vivi
Onde tudo era diferente
O Sol, e o Mar também
As tuas limpídas águas
Tua imponente fortaleza
O peixe fresco a saltar
Ilha de exótica beleza
E que saudades eu tenho
Das Mahotas bem cedinho
Nos seus barquinhos à vela
Parecendo brancos lençinho
E das coloridas capulana
Que a negra tão bem exibia
Quer fosse dia de festa
Ou em qualquer outro dia
Lá ficaste feito nada
No dia em que nós partimos
Tanta beleza abandonada
Quando chorando fugimos
Voltar a ver-te queria
Mas nunca mais te verei
Foste tudo o que eu queria
Não sei porque te deixei.



H.A. (EFA G.S.A)
No silêncio do espaço, os sentimentos confundem-se e todos os nossos sentidos ficam mais apurados. O visionamento de um local conhecido fica diferente e vemos os jardins, as flores, sentimos o vento na face e de repente tudo fica calmo, os problemas da vida desaparecem como que por magia e ficamos nós e a paisagem em completa sintonia.
A.C. (EFA G.S.A)

quarta-feira, 17 de junho de 2009

No exterior, foquei a minha atenção nos sons do meio envolvente como os pássaros, os cães a latir. Uma sensação de bem estar, quebrada pelo ruído dos carros que passavam e pelo desconhecimento do porquê ou o que estaríamos ali a fazer.
A beleza das flores. As folhas caídas e o respectivo contraste de cores: o castanho das folhas e o verde da vegetação, o reflexo do sol na mesma, o sentir a textura da relva, do musgo, das folhas, a sua temperatura, os sons emitidos por elas, tudo sensações em que foquei a minha atenção, abstraindo-me de tudo o resto.

S.P. (EFA G.S.A)

Uma reflexão sobre a vida

A natureza é a mãe que tudo nos dá.O que precisamos é aprender a olhar com olhos de amor, de agradecimento e alegria, por estarmos num mundo, que tanta beleza nos dá.Quantos de vós, já olharam tudo o que está ao seu redor com olhos de amor?Quando conseguimos encontrar coisas lindas ao nosso redor é porque o amor está presente em nós, seja ele da forma que for. Ele abre-nos os olhos para um mundo mais belo e colorido, cheio de alegrias e perfumes. Prestem mais atenção na natureza para poderem compreender a grandeza divina. Eu ao meu redor, escutei o chilrear dos pássaros, cheirei o perfume das flores, pisei a terra que todos os dias calco, sem me aperceber que ela existe.
Neste deambular, vi pessoas, umas envoltas em silêncio, talvez aquele silêncio que há tanto desejavam, outros retidos em reflexões, duma vida, sim vida, porque todo ao nosso redor existe vida.
Ofuscadas pelos raios de sol que nos irradiava, todos os nossos corações palpitavam serenamente, num sussurro, dizendo baixinho amo-vos.
H.A. (EFA G.S.A)

Pensamentos

Sinto a beleza de um final de tarde soalheiro.
O frio de Inverno em harmonia com o calor do sol na minha pele.
Sinto um misto de sensações.
Sinto a calma, a alegria e a energia. Sinto isto no simples e melodioso chilrear dos pássaros.
Sinto-me relaxada quando sinto o vento a bater contra a minha face.
Sinto-me deslumbrada com tudo aquilo que com a correria do dia-a-dia me passa despercebido e
é tão necessário para o meu bem-estar.
Ao longe o som dos carros parece querer-me trazer de volta ao stress da realidade.
Mas acima de tudo sinto-me intrigada com o desenrolar deste trabalho.


L.B. (EFA G.S.A)

Sentidos

Considero que uso cada vez mais os meus sentidos.
Controlam a minha vida. Posso errar claro, não sou perfeita, longe disso.
Através dos meus olhos, vejo cada vez mais a beleza do mundo. Sinto-me apaixonada pela vida e com vontade de viver.
Sinto um arrepio e acredito em mim como nunca acreditei.
Vou conseguir.
Agradeço às pequenas coisas, é este conjunto que me faz bem.
O cheiro mexe com todos os meus sentidos e faz-me vibrar. O toque entre as pessoas inspira a minha alma.
Entrego-me de corpo e alma ao sentimento e à sinceridade e acredito que os meus olhos espelham o que me vai na alma.
Espero que quem é importante para mim me veja desta forma, como uma mulher humana que atribui os sentidos à verdade de existir.
Quero saborear o mundo e ir à descoberta.



L.O. (EFA G.S.A)
No passeio, lá fora.
Enquanto caminho consegui sentir o cântico dos passarinhos e ao mesmo tempo um silêncio e um bem estar como se fosse a primeira vez. Senti as pedras ao caminhar. Senti-me bem como se não estivesse ali. A música levou-me a flutuar. Sozinha, numa praia maravilhosa com o chocolate. Mastigamo-lo todos os dias e deixamos de sentir esse gosto.

S.C. (EFA G.S.A)

Liberdade de pensamento

O pensamento de quem tem a oportunidade de estar sozinho durante bons e por vezes pouco minutos na vida. Nem sempre a solidão é inimiga. Pode e deve ser a nossa maior companhia para podermos reflectir nos nossos bons momentos e muitas vezes recuperar dos maus momentos que passámos ao longo da nossa vida.

R.V. (EFA G.S.A)
Parar um pouco para pensar, algo que neste momento da minha vida tem sido difícil porque tenho o tempo muito preenchido e com pouco tempo para pensar. Estes tempos causam-me nostalgia. Penso nas pessoas que amava e que já não estão entre nós. São sempre bons momentos.
M.A. (EFA. G.S.A)

Um momento inesperado

Primeira reacção...
Ar livre, sol, espairecer.
Que bom! Adoro!
Tudo o que é natural e me relaxa é bem-vindo!
Um grupo para se solidificar...
Sol, ar puro
Leu-se, riu-se, apalavrou-se...

Uma folha, uma árvore,
Levanto-me.... alguns passos
Sento-me sobre algo verde
Relva, sinto-me sossegado
Que bem que se está!

Alguém diz "Vamos voltar à base!"


J.P. (EFA G.S.A)
Ver aquilo que está sempre à frente dos olhos e eu não reparo. Hoje, depois de muito o calcar reparei. Vi que o verde do musgo me descontrai e me transmite tranquilidade. Permite-me descansar. O cheiro fresco e húmido limpa maus cheiros diários. A única coisa que me distrai do musgo é o som da inspiração e o sorriso dos meus colegas.
N.O. (EFA G.S.A)
Sentir o calor do sol
O cantar dos pássaros
Acalmam-me a alma
Enquanto caminho
Sinto uma brisa
No rosto
Sou livre
Adoro
O contacto
Com a Natureza
Observar
O verde
Da relva
Das árvores
Descobertas.


J.S. (EFA G.S.A)
É fácil estarmos sós e rodeados de pessoas ao mesmo tempo. Os meus sentidos estão despertos mas consigo estar no meio de uma turma e estar sozinha. Ouço muitos a falarem, rirem, brincarem e no entanto consigo apreciar o "meu próprio mundo", como um autista por vezes fecho-me em mim mesma e não me enquadro em nada do que me rodeia. Gosto de estar aqui junto da Natureza onde tudo é puro, onde ouço o canto dos pássaros e onde há perfeita harmonia estre a mente, o corpo e o meio. Sentir o frio na face e os raios tímidos de sol em Dezembro é sempre agradável. Os meus sentidos permitem-me quando o meio me é agreste fechar-me em mim e isolar-me do mundo. A solidão por vezes é necessária para que possamos estar em equilíbrio e gerirmos o turbilhão que por vezes é a nossa vida.
L.F (EFA G.S.A)

sábado, 9 de maio de 2009

Doce sabor

Com o frio que sentia
Um pássaro ouvia
Até que um carro
À sua passagem
O calou.
Novamente o silêncio voltou
Então o pássaro voou
E num ramo pousou
De repente outro carro
Entrou
E o silêncio roubou.
Eis que alguém
De brincar se lembrou
O cão ladrou
Alguém que se sentou
De tudo isto escrever se lembrou
O grupo caminhando
Novamente se juntou.
Já dentro de portas estávamos
Quando as nossas bocas
Adocicávamos
Enquanto com um doce som
Nos embriagávamos
Pensava e pensava
E nada mudava
Pois o doce sabor
Se prolongava
Então a melodia parou
E com ela
O pensamento
Murchou.

F.G. (EFA G.S.A)

Impressões dos XV

Impression, soleil levant, de Monet
Um convite aos sentidos num dia quente.
Abandonava-se a sala e procurava-se sentir: olhar, ouvir, cheirar, palpar, saborear o adocicado da tarde. Gritaram-se poemas que voaram por entre braços repletos de verde e eles dispersaram-se, procurando, cada um, o seu caminho...
T.G.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Princípios de Igualdade - "Aprender"

O racismo é uma prática que cada vez está mais enraizada na nossa sociedade.
É possível mudar, pois o racismo não nasce connosco, APRENDE-SE.

«O racismo começa quando a diferença, real ou imaginária, é usada para justificar uma agressão.
Uma agressão que assenta na incapacidade para compreender o outro, para aceitar as diferenças e para se empenhar no diálogo».
Mário Soares, antigo presidente de Portugal.

As pessoas não nascem racistas; o racismo infelizmente aprende-se como se fosse um manual de escola.
Aprende-se porque querem aprender, e não se esforçam para aprender mais nada.
Aprende-se porque ainda há quem queira ensinar.
Aprende-se para justificar os seus fins em proveito de outros e nas suas incapacidades de se afirmar com personalidade.
Aprende-se porque não conseguem aceitar uma cultura, uma cor ou simplesmente um cabelo diferente.
Porém aprende-se de tudo, mas não o essencial, não se aprende o saber e o respeito por outras culturas.
Não se aprende a tirar proveito das danças, da comida, da história entre outras coisas belas que existem.
E acabam por cair na realidade que criaram na ignorância e na incapacidade de compreender o outro.
Basta querermos aprender um pouco que seja e talvez se consigam mudar algumas mentalidades, que por vezes vivem na escuridão da ignorância.

Sónia Filomena da Cunha (EFA GSA)

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Do tempo que resta
É um clássico. Muitos livros, muitas peças de teatro, muitos poemas, muitos filmes sobre isto. O momento em que se pergunta: estou a ir bem? É isto que eu quero? Era isto que eu queria? Era isto, esta pessoa, que eu queria ser? Chama-se crise da meia-idade. Tínhamos ouvido falar. Parecia uma coisa estranha, cliché. Uma coisa que nunca nos aconteceria, não a nós – nós nunca sentiríamos esse misto de angústia e resignação, desespero e cansaço (e alívio, um pouco de alívio também) que vem com estas contas. Olha-se para trás, olha-se para a frente. Faz-se um balanço – colunas de deve, colunas de haver. Quantos livros ainda lerei? Quantos países ainda visitarei? Quantas coisas novas me parecerão novas? Quantas ideias, pessoas, imagens, palavras, sons, manhãs? Quantas vezes sentirei entusiasmo, maravilhamento, alegria, a energia única que vem do que nos arrebata?(…)”
Fernanda Câncio, in Notícias Magazine
QUERO DAR OS MEUS PARABÉNS À FERNANDA CÂNCIO PELO TEMA QUE ABORDOU, HOJE DIA 1 DE MARÇO, COM O TÍTULO " DO TEMPO QUE RESTA".

Falar do passado é algo que por mais que não queiramos faz parte de cada um, recordar sempre um passado já distante, que nos traz à memória tempos de infância, tempos em que éramos crianças e brincávamos com bonecas de trapos; corríamos os verdes campos; fazíamos as rodinhas; o fazer bonecos na areia da praia. Enfim o tempo foi passando, tornamo-nos adolescentes, adultos, e agora chega aquela idade em que vem à memória aquele passado que jamais poderemos esquecer. Lembrar o passado é trazer lembranças antigas, resgatando amizades perdidas no tempo e no espaço. Surpreendo-me por gratas recordações e outras recordando a perda de entes queridos. A questão não é voltar no tempo, mas trazer o passado para cá. É uma questão pessoal e emocional perceber que muita coisa foi deixada para trás e que, afinal, antes era melhor. Não me refiro à infância, refiro-me à pureza (porque não somos puros porque somos crianças; somos crianças porque somos puros). Mas temos de pensar que vale a pena fazer um intervalo e lembrar que viver no presente é bom porque é a única opção disponível.
No presente, olhamos o passado com saudade, saudade que não sentíamos naquela época, ou porque não percebíamos o seu valor, ou porque agora estamos a subestimar este valor comparado a um momento actual de menor significado. A saudade é a ponte entre o presente e o passado. Ela permite-nos visitar o passado, reviver cenas e emoções, mas não nos permite permanecer no passado. Sempre que cruzarmos a ponte teremos que voltar. Tentar permanecer no passado causa uma ruptura grave e de sérias consequências no presente. No futuro teremos muitas saudades do presente, então, é melhor vivê-lo plena e intensamente, porque pior do que a saudade do que vivemos é o arrependimento do que poderíamos ter vivido e não vivemos.
Recordar é viver, mas viver é melhor! Viva intensamente o momento presente e deixe que a saudade seja “apenas uma foto” de um filme onde todos sejamos os protagonistas. Um filme que ainda lhe reserva as melhores cenas da história, esta mesma história cuja saudade conta os capítulos anteriores!
Que o making of da sua vida seja tão interessante quanto o filme pronto e que as lágrimas da saudade não borrem porque escolheu viver sem maquilhagem. A personagem somos todos nós, o resto são detalhes, detalhes difíceis de esquecer porque pertencem a cada um de nós!
A saudade não deve ser uma algema que nos aprisione ao que já passou, mas uma janela de onde poderemos observar que, da mesma forma em que as dificuldades passaram e a beleza de cada momento permaneceu, a vida continuará a valer sempre a pena de agora em diante e oferecendo oportunidades de sentir novas e melhores saudades a cada instante. É na compreensão no respeito, naquele abraço e ombro amigo que deveremos dar o consolo a todos que percorremos este caminho que é a vida.
Helena Almeida (EFA GSA)

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Os quinze

Nenúfares, de Claude Monet (1904)


Os quinze.
A serenidade cirandava pela sala. Olhares perdiam-se num desconhecido, num mar de folhas ainda por preencher, no odor ainda virgem do papel. Deram-se a conhecer, de sorrisos retraídos e vozes vacilantes. Silenciosos, entregaram-se à labuta que, segundo os mestres, se previa árdua e contínua.
Os quinze.
Havia um corajoso, homem dos sete ofícios, que atirava ideias corpo fora, sempre de sorriso em riste, mas deixando sempre um certo mistério nas suas palavras; um amante do teatro sugeria futuras performances num palco imaginário, para incredulidade de alguns presentes no grupo; uma jovem silenciosa, de cabelos negros ondeantes, segredava o seu pavor de falar em público; havia ainda uma apaixonada pelo país dos diversos queijos e vinhos; havia outra que prometia seriamente a vinda breve de um livro; um que revelava a sua paixão por cinema e pelo invulgar; outro que amava as telas e que gravava na película momentos que só ele escolhia; uma jovem de cabelos cor de sol cuja voz se perdia no caminho, pequenina e doce mas forte em ideias e conteúdo; havia ainda a adoradora de músicas de sabor oriental a exalar sempre uma doce tranquilidade; um poeta que assegurava que a sua voz vibrava nas cadeiras; um artista que olvidava a cor clara das calças e que se misturava com os elementos naturais para se dedicar à tarefa da escrita criativa, de cigarro no canto da boca; uma jovem discreta de olhar meigo e gentileza na voz de uma país distante mas ao mesmo tempo tão perto; outra de olhar atento, voz efusiva e dona de histórias infindáveis; havia ainda aquela que escondia passado de força e se envolvia numa suave discrição; e um amante das novas tecnologias, cujo olhar se afundava, por vezes, por detrás de um ecrã.